quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Entrevista do mês - Ana Barata

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Ana: Olá Ana, desde já muito obrigada por aceitar o nosso convite e desta forma dar-nos a conhecer um pouco mais desta grande Instituição que é o Centro Social da Musgueira. Para começar pode dizer-nos como e quando surgiu o Centro Social da Musgueira?

Ana Barata: Ui… Grande história essa, o Centro tem 46 anos(…) e surgiu muito por uma vontade de assistir às pessoas que começaram por aparecer aqui, neste grande território que era o Bairro da Musgueira Norte. Como é que surge o Bairro? Surge em 1961 com pessoas que são realojadas de outros sítios, normalmente de catástrofes naturais, (…) e foi também aquando da construção da Ponte 25 de Abril. Quando os americanos começaram a fazer a obra da ponte 25 de Abril tiveram que tirar do sitio dos pilares da ponte as pessoas que moravam ali. E, portanto, a Câmara Municipal de Lisboa pegou nessas pessoas e, provisoriamente punha-as aqui (…) com a promessa que teriam uma casa logo a seguir. Portanto, o que era para ser uma situação provisória acabou por durar 40 anos e, só entre 98 e 2001 é que o Bairro da Musgueira Norte é demolido e as pessoas começaram a ter uma casa condigna nestes prédios de realojamento aqui á volta e, portanto é a situação actual que temos.
Ana: Que objectivos tinha o Centro inicialmente e que objectivos tem actualmente?

Ana Barata: Basicamente o objectivo principal mantém-se, é o mesmo. O Bairro (…) começa em 1961 com condições muito precárias, as pessoas começaram a fazer as suas próprias casas (…) Cada um foi fazendo a sua casa que deu origem a um grande Bairro, só que as condições eram muito precárias, eram muito más, não havia saneamento básico, não havia electricidade, não havia água, esgotos e, portanto havia uma necessidade de apoiar esta população que estava aqui a viver numa situação sub-humana. O Padre Rocha e Melo que é o nosso fundador, (…) que já faleceu (…) apercebeu-se da existência de todos estes problemas (…) e conseguiu a ajuda de estudantes de S. João de Brito, de voluntários (…) eram um grupo de jovens cheios de vontade de ajudar. E ajudaram a fazer aquilo que seria o Centro Social da Musgueira. Desde ajuda na construção de casas, a ter reuniões com a Câmara, com o Ministério da Educação para ter organismos aqui no Bairro, portanto, para que escolas viessem para aqui, para que o Centro de Saúde viesse para aqui, para que o saneamento básico passasse a existir no Bairro (…) Depois começaram a ocupar-se juntamente com os mesmos voluntários de tudo o que era importante para a população (…) e começaram, então, as primeiras actividades do Centro. As salas de Estudo é a nossa valência mais antiga, tem os 46 anos que tem o centro embora os moldes das S.E. tenham mudado ao longo dos tempos. Portanto, no inicio era muito um sitio onde os jovens e as crianças podiam vir estudar. (…) Neste momento o apoio é muito mais individualizado e especializado (…) Mas o grande objectivo do centro continua a ser o mesmo que era no inicio, que era apoiar o desenvolvimento da população, seja ele a que nível for, capacitar, dar oportunidades e apostar sempre no desenvolvimento das pessoas. Das pessoas como o seu centro e apostar no seu desenvolvimento e na sua capacitação e é o que se mantém até hoje.
Ana: Quais são os maiores desafios com que o centro se vê normalmente confrontado no seu dia-a-dia?

Ana Barata: Pois, os desafios é conseguir fazer a obra que tem que acaba por ser muito grande e chegar a muita gente, com as dificuldades financeiras que temos. O Centro é uma IPSS, portanto o que acabou por ser uma acção de voluntariado do Padre Rocha e Melo com os voluntários (…) transformou-se numa Instituição Particular de Solidariedade Social. Fizeram-se estatutos, portanto, basicamente ganhou personalidade jurídica e tem uma forma, passou a ser uma entidade. Mas tem recursos financeiros muito pequenos. As contribuições dos utentes que temos, que são cerca de 500 diariamente, são baixas (…) portanto isso reflecte-se no dia-a-dia do Centro.
Há dificuldades financeiras e portanto temos que conseguir esses recursos financeiros para poder continuar a fazer o nosso trabalho (…) temos projectos de financiamento mas contamos sobretudo com a ajuda de muitos benfeitores, de muitas pessoas Que conhecem o nosso trabalho e que acreditam nele
(…) e é com esse donativos e com esses benfeitores que conseguimos sobreviver todos os anos.


Ana: Pode falar-nos um pouco da experiência de dirigir uma Instituição como o C.S.M.?

Ana Barata: É um desafio enorme mas muito bom, somos muitos (…) e sinto sempre que é um trabalho de muita gente, somos cerca de 50 funcionários cada um nas suas áreas. O centro tem uma área de intervenção muito diversificada, temos: Jardim de Infância, ATL, Mediateca, Salas de Estudo, Centro de Dia e Apoio Domiciliário (…) Temos uma equipa esforçadíssima (…) temos um sentimento de causa muito grande, sabemos que temos que honrar uma história para trás (…) É muito bom trabalhar assim. Há dificuldades, também, não só as dificuldades financeiras (…) temos umas instalações que são as últimas da Musgueira Norte, o Bairro foi todo realojado e nós fomos ficando para trás (…) também percebo que haja dificuldades em realojar uma instituição como a nossa que é grande, esperemos e pelo menos temos essa esperança e há projectos e há a garantia da Câmara que vamos ter instalações onde vamos poder continuar a desenvolver o nosso trabalho (…)

Ana: Ao longo do seu percurso houve muitos desafios a que teve de dar resposta, houve algum que a marcou a nível profissional e também pessoal?

Ana Barata: Não destacaria nenhum em especial, acho que todos os dias temos desafios desde os mais pequeninos aos maiores, às grandes causas, são todos eles igualmente importantes, às vezes aquilo que nos parece pequeno faz toda a diferença na vida de uma pessoa (…) o acompanhamento que se faz a determinado jovem em determinado momento da vida pode de facto ser ali um ponto de viragem na vida dele e nunca saberemos as consequências que isso tem. Pessoas que poderiam ter seguido um percurso e que passaram a ter outro e que lhes trouxe vantagens(…)Portanto, eu não destacaria nada em concreto, acho que houve momentos históricos que foram importantes. O último e o mais recente foi o realojamento do Bairro, e isso é uma coisa pela qual o Centro também lutou e teve sempre essa esperança que pudessem ter uma dignidade na habitação (…) são as primeiras necessidades a serem satisfeitas. Todas as outras também estamos cá para isso (…) as pessoas têm saudades do Bairro porque têm lá a sua história, as suas raízes (…) Neste momento é olhar para a frente (…).

Ana: Que importância tem o Centro para a população que abrange?

Ana Barata: (…) Eu acho que a população em geral sente o Centro como um companheiro de caminhada. Acho que sabem que podem contar com o Centro, que sabem para que existe o Centro. O Centro é uma pessoa que está ao lado das pessoas e que está lá para satisfazer as necessidades das pessoas ao longo dos anos, ao longo da sua vida. (…) Acho que somos vistos como companheiros de caminhada, que podem contar connosco.

Ana: De entre os muitos projectos que tem para o Centro há algum especial que gostaria de ver concretizado no imediato?

Ana Barata: (…) o que eu gostaria de ver concretizado em primeiro lugar eram as novas instalações (…) até porque já investi imensos esforços nesse assunto e gostaria de ver as novas instalações do Centro. (…) Tendo as novas Instalações há uma série de projectos e de coisas que eu gostava de ver concretizadas. Em primeiro lugar a formação profissional para os jovens, o poder proporcionar novas actividades para além daquelas que já temos, que são imensas (…) poder acrescentar , na qualificação em dar oportunidades de formação profissional, tudo isto são etapas que são importantes (…) para o desenvolvimento das pessoas. Se elas poderem ter certificação profissional, abre-lhes novos horizontes, novas possibilidades na vida e tudo isso são projectos do Centro (…) e eu tenho esperança de ver isso acontecer.

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4 comentários:

RESPONSÁVEL disse...

boa entrevista ... realmente temos a pessoa ideal para gerir esta grande instituição , força ANA BARATA ... PARABÉNS JORNAL ...

formiguinha disse...

Grande Senhora, as suas palavras transpiram garra, contagia-nos a todos com o seu optimismo e a sua determinação. Obrigada, Ana pela tua força transbordante!

reporter disse...

sim senhora ... bela entrevista

Jornal disse...

Obrigada pelos vossos comentários!!